O Impacto femoroacetabular é, basicamente, o contato precoce entre o fêmur e o acetábulo, que ocorre durante graus elevados de determinados movimentos do quadril. Esse quadro acaba gerando dor e limitação do movimento dessa área. O bloqueio do movimento ocorre por razões mecânicas. Observamos muito no consultório pessoas que relatam que sempre tiveram dificuldades de exercer alguns tipos de movimentos, como cruzar as pernas, por exemplo.
Costumeiramente, sua causa é dividida em dois subgrupos:
- CAME
Quando a deformidade é proveniente de um alongamento do colo do fêmur (ocorre um bump ou caroço na região anterior e lateral da cabeça do fêmur, que deixa de ser esférica) - PINCER
Quando há formação de excessos de osso no rebordo do acetábulo (osso da bacia) limitando a mobilidade do quadril.
Em mais de 70 % os impactos CAME e PINCER ocorrem juntos, ou seja, o impacto é misto.
Existe ainda o impacto subespinhal, esse tipo é mais comum no sexo masculino e pode ter como causa arrancamentos ósseos que ocorreram na infância e adolescência principalmente nos movimentos de chute.
Durante determinados movimentos os ossos se conflitam e acabam machucando estruturas muito nobres no nosso quadril, como o labrum acetabular e a cartilagem. Essas lesões mecânicas com o tempo também geram alterações bioquímicas que aos poucos vai levando a alterações degenerativas progressivas, como uma bola de neve.
Não se sabe ainda exatamente qual a causa do impacto, alguns estudos apontam que pode ter relação com crianças e adolescentes que praticaram muitos esportes nesta fase da vida (isso deixa a “cicatriz” de crescimento da cabeça do fêmur maior). Em alguns casos os pacientes podem ter apresentado pequenos escorregamentos da área de crescimento da cabeça do fêmur.
O paciente sente dores na região anterior e lateral do quadril após ficar muito tempo sentado ou praticando esportes com movimentos repetitivos. O início dessas dores pode ser gradual ou associado a um episódio agudo de dor. Geralmente o paciente pega a dor com o indicador e polegar da mão formando um sinal do “C”.
Flexões exageradas da área ou até mesmo entrar e sair do carro pode despertar uma dor que muitos caracterizam como interna, uma vez que não é palpável. Em certos casos, essa dor pode irradiar para região da virilha, posterior do quadril, bem como o glúteo.
É muito frequente os pacientes procurarem inicialmente um cirurgião geral pensando em hérnias inguinais ou até mesmo urologistas, pois em algumas vezes, as dores irradiam até a região dos testículos dos homens.
O diagnóstico é clínico e por exames de imagens. O exame físico é parte importante para o diagnóstico, pois nem todo paciente com deformidades mecânicas ou morfológicas do tipo CAM, PINCER ou mistos são sintomáticos, devendo ser investigado outras causas das dores no quadril.
“É importantíssimo ressaltar que grande parte da população apresentam alterações morfológicas e que não são sintomáticas, mas que se fizerem determinado tipo de movimento ou exercício, podem transformar esse impacto “adormecido” em um impacto sintomático.”
A partir disso a principal medida a ser tomada é evitar movimentos extremos que provoquem a dor, mudanças de hábitos e aliviar a dor no local com o auxílio de medicamentos receitados pelo seu médico. Fisioterapeutas que possuem experiência no tratamento dessas lesões são muito importantes para conduzir um bom tratamento conservador.
“A literatura atual não indica tratamento cirúrgico para casos de pacientes que tem a deformidade mas não possuem sintomas.”
Em casos mais avançados, pode ser necessário realizar cirurgia, por isso é importante manter atenção redobrada aos sinais que seu corpo está te mostrando e buscar um diagnóstico adequado.
O tratamento cirúrgico padrão ouro é a artroscopia do quadril, procedimento realizado através de duas a três pequenas incisões na lateral do quadril. Basicamente atuamos removendo o excesso de osso com uma pequena broca que também tem a função de aspirar e suturamos o labrum. Lesões muito extensas de cartilagem atualmente podem ser tratadas com a utilização de membranas de colágeno.